Famosos
Como Jean Wyllys passou de vencedor do BBB a deputado rejeitado
29 de março de 2005.
Em algum lugar no Rio de Janeiro, pelas palavras de Pedro Bial, Jean Wyllys deixava a casa do Big Brother Brasil 5 consagrado pelo público campeão, com 55% dos votos, em uma disputa com ninguém menos que à época não tão desconhecida Grazi Massafera.
Naquele tempo, o então professor universitário sagrava-se campeão com ares de protagonista. Indicado ao paredão na primeira semana e quase sendo eliminado, permanecendo na casa por décimos, Jean colocou-se como uma figura imponente, enfrentou o preconceito dentro do programa – e o de fora, em uma época onde a pauta LGBT ainda não era tão discutido quanto hoje – e levou para casa o prêmio de 1 milhão de reais.
24 de janeiro de 2019.
Quase 14 anos depois de sair do reality show mais popular do país (e, vale lembrar, naqueles tempos o programa alcançava índices de novela, acima dos 40 pontos), Jean Wyllys, então reeleito para seu terceiro mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro, anuncia que não assumirá o cargo e deixará o país.
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Uma década depois, o outrora aclamado vencedor pelo povo brasileiro, agora assiste sua saída do país – por segurança, graças a diversas ameaças que vinha sofrendo – ser comemorada pela maioria dos usuários das redes sociais, por figuras políticas em alta e tem, até mesmo, sua história colocada em xeque por alguns outros tantos.
O que aconteceu, então, nesse meio tempo, que fez a visão do público – em geral – mudar tanto a respeito do professor?
2x Deputado
Depois de sair do programa vitorioso, Jean voltou a aparecer na mídia em 2010, onde foi eleito pela primeira vez deputado federal do Rio de Janeiro. Naquele pleito, Jean conseguiu uma porcentagem minúscula de votação: 0,16% dos votos válidos. Contudo, conseguiu sua cadeira graças a candidatos de seu partido PSOL atingirem um bom desempenho.
Desde então, Jean envolveu-se em diversas polêmicas. Suas reações extremadas, os embates dentro da Câmara dos Deputados, onde sempre se colocava de forma incisiva e defendendo o que acreditava ser certo. Ele foi um dos autores de projetos importantes, como a PL 5120/2013, que revogava alguns artigos do Código Civil sobre casamento para permitir o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo e também de alguns polêmicos (que lhe renderam dor de cabeça), como a PL 4211/2012, que regulava a atividade de profissionais do sexo.
Reeleito em 2014 ocupando a sétima posição entre os deputados mais votados do Rio de Janeiro, ele continuou seu mandato, envolvendo-se novamente em polêmicas, como o episódio onde cuspiu no então deputado Jair Bolsonaro durante uma discussão.
Polêmicas
Mas as polêmicas que minaram a popularidade de Wyllys não dizem respeito apenas a sua atuação dentro da Câmara. Em 2013, o deputado foi acusado de ser o autor de frases de intolerância religiosa e defesa da pedofilia, fato que lhe ganhou muita notoriedade na mídia. À época, Jean entrou com uma representação por calúnia e difamação e alegou ser alvo de uma campanha caluniosa.
Outro fato que ajudou a afundar ainda mais o índice de aprovação do deputado foi a declaração polêmica no programa Tas ao Vivo, em 2013, onde comparou os seus salários com os ganhos de um professor, afirmando que descontados todos, recebia, em seu trabalho como parlamentar, quase a mesma coisa que ganharia como professor de universidade – pela sua titularidade -, por um trabalho (o de deputado) que julgava ser muito mais cansativo.
Jean também passou a ser bastante criticado pela forma como expressava suas opiniões. Em 2014, durante as eleições, o deputado afirmou em seu twitter pessoal que a maioria dos eleitores do PSDB era “classista, racista e violenta”, o que gerou uma péssima repercussão.
Um dos mais ferrenhos críticos ao atual presidente Jair Bolsonaro durante a eleição, Jean viu cada vez mais a opinião pública se voltar (em sua maioria) contra si sempre que criticava – de forma dura e direta – alguma declaração ou atitude do então candidato.
Fake News
Se existe alguém que sofreu com a disseminação de Fake News, esse alguém foi Jean Wyllys. Desde que assumiu o primeiro mandato, o deputado é alvo de inúmeras divulgações de matérias falsas a seu respeito, sempre com teor negativo, com o claro objetivo de desmoralizar o seu trabalho enquanto deputado e até mesmo seu caráter.
Wyllys foi acusado, por exemplo, de ser autor de um projeto de lei que legalizava o casamento entre humanos e animais – acusação que levou até a justiça, que lhe deu ganho de causa clara. Além deste caso, o deputado foi acusado também de planejar uma turnê com a cantora drag queen Pablo Vittar pelas escolas do país para “ensinar gênero”, de querer retirar trechos da Bíblia, impedir negros de serem evangélicos, forçar igrejas a casarem homossexuais, entre outras notícias sempre disseminadas a fio, além dos já citados casos onde frases ligadas a pedofilia são atribuídas a sua autoria.
A repercussão que foi dada a todas essas notícias falsas, a nível nacional, derrubou o nível de confiança do público médio em geral – aquele que não tem tanto acesso a informação -no deputado e foi, sem dúvida, o principal motivo de sua queda de popularidade.
Exílio?
Ao anunciar que não assumiria seu terceiro mandato como deputado e deixaria o país devido a ameaças direcionadas a ele e a sua família, Jean Wyllys ganhou novamente descrédito de uma boa parte dos usuários de redes sociais, que em sua maioria classificaram a atitude do agora ex-deputado como exagerada e dramática – alguns chegando ao ponto de comemorar sua saída.
Deixando o cargo conquistado pelo voto e saindo do país, Jean Wyllys encerra sua trajetória política de forma amarga, amado e defendido por poucos, detestado por muitos outros – o exato oposto do fim de sua trajetória no Big Brother Brasil, em 2005.
Como diria Pedro Bial em algum dos seus discursos, é o amargor da vida, que nunca cansa de pregar suas peças.
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