"Se não tenho acesso a fonte, prefiro não publicar", diz Mauricio Stycer
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na “Folha de S.Paulo”. Começou a carreira no “Jornal do Brasil”, em 1986, passou pelo “Estadão”, ficou dez anos na “Folha” (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo “Lance!” e a revista “Época”, foi redator-chefe da “CartaCapital”, diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros “Topa Tudo por Dinheiro – As muitas faces do empresário Silvio Santos” (editora Todavia, 2018), “Adeus, Controle Remoto” (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e “O Dia em que Me Tornei Botafoguense” (Panda Books, 2011).
Nada melhor do que o próprio Mauricio para se apresentar. A descrição acima pode ser encontrada em seu Blog no UOL TV. Afiado e divertido em suas análises, o profissional é um dos mais requisitados e respeitados críticos do país.
Abaixo, você vai conhecer um pouco mais de Mauricio.
Você é um dos principais críticos de TV atualmente. O que o jornalismo digital mudou no jeito de se produzir críticas televisivas para você?
A revolução digital afetou o jornalismo de forma radical. Entre muitas outras consequências, uma delas foi ampliar a cobertura de assuntos relacionados ao universo da televisão. Creio que isso ocorreu porque são duas mídias – internet e TV – muito próximas, consumidas por um universo comum de pessoas. O jornalismo de TV e, em particular, a crítica cresceram em volume no mundo digital e foram obrigados a se tornar mais ágeis. Posso dizer que me rendi a esta exigência de mais rapidez. Escrevo mais e de forma mais rápida – duas coisas que não são necessariamente qualidades quando se fala de análise e de crítica.
Há espaço para a crítica especializada de TV no jornalismo impresso ou televisivo ainda ou a internet tende a tomar este espaço para si?
Acho que ainda há espaço, sim. Na coluna semanal que mantenho na Folha procuro apresentar um enfoque diferente da crítica diária na internet. Mas acho que a questão mais importante a observar nem é esta. O que deve preocupar é o número cada vez menor de veículos de comunicação independentes, sem relação com empresas de televisão.
O assunto agora é fakenews. No mundo da TV isso é ainda mais recorrente que na política, por exemplo. Enquanto um dos jornalistas mais respeitados e experientes do país, o que você tem a dizer sobre isso?
A pressa é inimiga do bom jornalismo, ao mesmo tempo em que é uma característica intrínseca da profissão. Estamos sempre correndo para dar a informação em primeira mão. É preciso estar muito atento, o tempo todo, para evitar cometer erros. E, se cometê-los, corrigi-los com transparência e rapidez.
Mesmo jornalistas experientes têm caído em fakenews. No mundo da internet em que tudo acontece muito rápido, o que é melhor: esperar pela confirmação da notícia ou postar para não perder a exclusiva?
O correto é sempre confirmar a informação antes de publicá-la e, se possível, não se fiar apenas em uma fonte. Se é uma notícia muito grave e importante, e não tenho acesso a uma fonte primária, diretamente envolvida com o assunto, prefiro não publicar.
Vamos voltar a falar da crítica especializada. Há outro sofrimento para você que é crítico: os haters. Você sofre muitas perseguições por fazer críticas a produto de TV?
Ainda há muito preconceito com a crítica de televisão, considerada uma atividade “menor” na comparação com críticas em outros ramos do entretenimento e da cultura. Não ligo para isso, de um modo geral. Só me incomoda quanto este preconceito vem de gente que trabalha na própria TV.
Como você lida com seus próprios haters?
Nas redes sociais, não dou bola. Adoro debater, trocar ideias, sobre televisão, mas só faço isso quando vejo que meu interlocutor, discordando de mim, está de boa fé, realmente interessado em conversar, não em ofender.
Você é o jornalista televisivo que mais se mistura com o público, tanto no Twitter quanto no Facebook. Uma pergunta importante: asredes sociais para você são trabalho ou lazer?
Não sei se é verdadeira esta afirmação que vocês fazem. Mas, de fato, desde que entrei no Twitter, em 2008, entendi que as redes sociais são uma extensão do trabalho de quem escreve sobre televisão. Como respondi no início desta entrevista, há uma enorme convergência entre o público da TV e o usuário de internet. Mas também me divirto muito nas redes sociais, brinco, faço piadas, leio muita coisa engraçada. Assim, eu diria que Twitter, Facebook e Instagram, para mim, são trabalho e lazer.
Muitos dizem a seguinte frase: “O Stycer adora procurar defeito em tudo”. Janete Clair dizia que seus críticos eram sábios porque a função do crítico é procurar falhas onde ninguém consegue ver. Você concorda que um crítico deve, sobretudo, apontar incongruências do produto que está sendo analisado ou é possível fazer uma crítica apenas tecendo elogios?
Este comentário sobre “procurar defeito em tudo” reflete a falta de compreensão sobre a natureza do ofício. Mas só me espanto quando ele é feito por jornalistas ou por gente que escreve sobre televisão (o que acontece de vez em quando). Num meio tão comercial, movido a publicidade e audiência, como a televisão, é natural e, eu diria, obrigatório que o trabalho do crítico privilegie problemas. Mas tenho o maior prazer em elogiar o que acho legal, e me preocupo, sim, em identificar o que merece ser elogiado em qualquer produção que assisto. Mas nem sempre encontro (risos).
Que outros críticos de TV você costuma ler?
Não gostaria de mencionar nomes, mas posso dizer que leio muita gente. Não é necessário concordar com um crítico para gostar dele. Ao contrário, muitas vezes aprendo discordando. Infelizmente, há poucos críticos hoje se dedicando exclusivamente ao ofício. Vejo vários bons jornalistas que combinam a atividade de apuração de bastidores e reportagem com a de crítico ou analista.
Qual seu critério para decidir o que vai ser alvo de um texto em seu blog?
Tento escrever sobre todas as estreias na TV aberta comercial. E escrevo sobre tudo mais que me impressiona ou surpreende, positiva ou negativamente.
Vamos falar um pouco de seu trabalho. Como foi a experiência de escrever um livro sobre o Sílvio Santos?
Dois meses depois da publicação do livro, tenho constatado que a maneira como abordei o assunto acabou ajudando a entender e explicar uma série de atitudes recentes do Silvio. Só por isso, posso dizer que a experiência valeu muito a pena.
Há outros projetos em mente?
Sim. Tenho alguns projetos em mente, ligados ao universo da TV, mas por enquanto prefiro não falar a respeito.
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