Coluna do Naian: Não há mais espaço para contemplação no Brasil?
Tramas contemplativas estão conquistando as principais premiações internacionais no mundo das séries. “The Crown” e “The Handmaid’s Tale” são alguns exemplos. Já na telenovela, o caminho seguido é o oposto. Quanto mais ação, mas bem sucedida é a trama. Mas por que o público e a crítica de novelas não gostam de tramas contemplativas?
Vamos fazer um exercício para relembrar qual novela contemplativa foi um fenômeno de crítica e audiência. No horário das nove, “Páginas da Vida” foi a última obra que conseguiu esse destaque. De lá pra cá, usaram este caminho “Viver a Vida”, a primeira parte de “Insensato Coração”, “Em Família” e “Velho Chico”. Nenhuma obteve grande êxito.
Em outros horários, “Além do Tempo”, de Elizabeth Jhin, e “Sete Vidas”, de Lícia Manzo foram que conseguiram bom retorno de crítica, mas passaram longe de alcançar índices satisfatórios. “Escritos nas Estrelas”, de Jhin, é a última trama que teve bom retorno do público e também dos especialistas.
Desde “Senhora do Destino”, o público tem buscado maior agilidade. Com os sucessos de “A Favorita” e “Avenida Brasil”, essa cobrança por tramas mais ágeis se tornou evidente e, de certa forma, incomoda para os autores. Quando um tenta fugir desse padrão, não consegue ser um fenômeno e, na maioria das vezes, recebe muita crítica.
O grande problema é que os roteiristas também não compreenderam o novo estilo de contemplação. Parados nos anos 1990, eles seguem segurando histórias, exibindo cenas longas de conversas, não olhando para as tendências mundiais.
“Espelho da Vida” é quem tem sofrido com esta questão. Os especialistas acusam a autora de segurar as histórias dos personagens, deixando tudo muito monótomo. Neste quesito, eu discordo. A construção narrativa é feita de forma lenta, mas quase todo capítulo somos abastecidos de novas informações.
O problema é apenas no ritmo. Com uma direção convencional, não há muitas mudanças de tomadas nas cenas, o que transmite a sensação de cenas longas e arrastadas, os diálogos são, muitas vezes, didáticos, o que cansa um pouco e, principalmente, a irritante perfeição na marcação de cena. Não há um momento em que algum ator dá mais sujeira na interpretação.
A contemplação continua em alta no mundo e o Brasil tem condições de fazer grandes fenômenos neste estilo. Os autores e diretores só precisam deixar de enxergar o século passado e olhar para a nova tendência no mundo das séries. A fonte deles pode nos ajudar a encontrar um novo caminho.
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